Jardim d'água
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Jardim d'água
Lina Kim
Agosto de 2017
Lina Kim
Agosto de 2017
Circularidade no Jardim de Lina
–
Apaga Um micro-fenômeno, uma sombra projetante, o calor deixado na cadeira, o intervalo de um papel vincado, o vento orleando as folhas, o ofuscar do sol precipitado sobre a água. Esses traços, vestígios e imagens posteriores são os veículos através dos quais as circularidades se manifestam na materialidade. As circularidades são transitórias, mesmo quando ilusoriamente captadas, mesmo quando aparentemente impressas, inclinar-se-ão a ser a luz no papel fotográfico ou a água da tinta sobre o tecido. Luz e água, em seus estados táteis, são materialidades evanescentes e estão fadadas a desaparecer, como as pegadas na neve, mesmo quando esses traços conseguem algum tipo de maravilha: a formiga que suporta mais do que seu próprio peso.
Ela Reticente, insinua que eu evite apelos poéticos para falar de sua obra – “a dor você sente, não é poético”. A métrica de Lina é pautada pelas brevidades, pelas pegadas, pelo testemunhado agora. E a água é molde da estrutura fluída e indômita de seu pensamento e de sua predileção pela metamorfose. Essa água pode ser matéria moldável, bebida doméstica capturada e contida num recipiente transparente: um copo. Pode aparecer como plataforma ou superfície para uma imagem mais atrativa que irrompe sobre ela: a luz. O sol. Ou pode sugerir mares em vez de água, ser oceânica, de sentimentos oceânicos, de entrega irresistível, que vem como uma força inundante, carregando obsessões de dilúvio: os campos de trigo encheram-se decididamente de água do atlântico.
D’água No jardim circular de Monet, o compasso turístico da pressa impede o tempo da paisagem. Mas Lina fotografa vagarosamente, prolonga com sua pinhole a exposição ao sublime policromático do impressionista. Registra a impermanência dos brilhos, captados sobre a membrana do jardim. Desafia a transitoriedade da cor, submetida à fonte de luz que irradia sobre o objeto, e enxágua em preto e branco uma ida e vinda entre abstração e substanciação que leva um ritmo de vibração semelhante à vertigem do mar.
[texto de Joana Barossi e fotos do Michael Wesely]
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Apaga Um micro-fenômeno, uma sombra projetante, o calor deixado na cadeira, o intervalo de um papel vincado, o vento orleando as folhas, o ofuscar do sol precipitado sobre a água. Esses traços, vestígios e imagens posteriores são os veículos através dos quais as circularidades se manifestam na materialidade. As circularidades são transitórias, mesmo quando ilusoriamente captadas, mesmo quando aparentemente impressas, inclinar-se-ão a ser a luz no papel fotográfico ou a água da tinta sobre o tecido. Luz e água, em seus estados táteis, são materialidades evanescentes e estão fadadas a desaparecer, como as pegadas na neve, mesmo quando esses traços conseguem algum tipo de maravilha: a formiga que suporta mais do que seu próprio peso.
Ela Reticente, insinua que eu evite apelos poéticos para falar de sua obra – “a dor você sente, não é poético”. A métrica de Lina é pautada pelas brevidades, pelas pegadas, pelo testemunhado agora. E a água é molde da estrutura fluída e indômita de seu pensamento e de sua predileção pela metamorfose. Essa água pode ser matéria moldável, bebida doméstica capturada e contida num recipiente transparente: um copo. Pode aparecer como plataforma ou superfície para uma imagem mais atrativa que irrompe sobre ela: a luz. O sol. Ou pode sugerir mares em vez de água, ser oceânica, de sentimentos oceânicos, de entrega irresistível, que vem como uma força inundante, carregando obsessões de dilúvio: os campos de trigo encheram-se decididamente de água do atlântico.
D’água No jardim circular de Monet, o compasso turístico da pressa impede o tempo da paisagem. Mas Lina fotografa vagarosamente, prolonga com sua pinhole a exposição ao sublime policromático do impressionista. Registra a impermanência dos brilhos, captados sobre a membrana do jardim. Desafia a transitoriedade da cor, submetida à fonte de luz que irradia sobre o objeto, e enxágua em preto e branco uma ida e vinda entre abstração e substanciação que leva um ritmo de vibração semelhante à vertigem do mar.
[texto de Joana Barossi e fotos do Michael Wesely]
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